Os filmes históricos sempre capturam a atenção dos espectadores com tramas emocionantes e cenários imersivos. Mas quando se trata de figurinos, alguns detalhes simplesmente não passam despercebidos. Quem nunca notou uma personagem medieval com dentes impecavelmente brancos ou uma heroína do século XIX com o cabelo solto e impecável? Apesar de parecerem pequenos detalhes, esses “erros” provocam grandes discussões entre os fãs e críticos. Será que é falta de pesquisa ou apenas liberdade artística?
Muitos espectadores se perguntam: por que filmes que investem tanto em autenticidade histórica ainda cometem erros de figurino? Para alguns, esses deslizes prejudicam a imersão, enquanto para outros são detalhes que podem ser ignorados em prol da narrativa. Vamos analisar os principais erros e o impacto deles na experiência do público.
Enola Holmes 2 (2022)
Esse é um excelente exemplo de como os filmes podem, às vezes, ignorar o contexto histórico em prol de uma estética idealizada. Ver personagens femininas com cabelos soltos em ambientes de trabalho do século XIX, como em uma fábrica de fósforos, é um anacronismo que chama a atenção. Na realidade, naquela época, as mulheres eram obrigadas a prender o cabelo, especialmente em fábricas, onde os riscos de acidentes eram altos. A segurança ainda era rudimentar, mas o mínimo necessário era evitado por questões práticas e sociais.
A escolha de manter o cabelo solto, em filmes, pode ser uma tentativa de dar um ar mais “natural” à personagem, algo mais identificável ao público atual. Contudo, para o espectador mais atento, essa licença artística pode quebrar a imersão, afastando-o do contexto histórico que a obra tenta representar.
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007)
Esse é um detalhe curioso e interessante, especialmente para os fãs mais atentos. Na franquia em que Keira Knightley participou, o sinal acima da sobrancelha direita da atriz se tornou uma espécie de “easter egg” involuntário. No terceiro filme, essa inconsistência ficou ainda mais evidente, especialmente nas cenas em que sua personagem usa pouca maquiagem.
Esse tipo de detalhe pode passar despercebido na produção, mas para o público, esses pequenos “erros de continuidade” se tornam elementos memoráveis e até charmosos. Eles lembram que, apesar de todo o cuidado com maquiagem e figurino, sempre há espaço para as peculiaridades pessoais do ator aparecerem. Esses momentos humanizam o personagem e tornam a experiência de assistir ao filme ainda mais interessante para aqueles que percebem esses detalhes.
Esse é um exemplo clássico de como um detalhe autêntico pode se transformar em um ponto de distração. A escolha de caracterizar Sao Feng com unhas longas é, de fato, historicamente precisa, já que, na China antiga, homens de alta posição social deixavam as unhas crescerem como um símbolo de status — uma maneira de mostrar que não precisavam realizar trabalhos manuais.
No entanto, a autenticidade do detalhe se perde em cenas de close-up, onde as unhas falsas do personagem se tornam evidentes e acabam comprometendo o efeito visual desejado. Esses momentos de “falha” na maquiagem ou nos acessórios podem quebrar a imersão para o público mais atento, que percebe o artifício. Apesar de serem detalhes técnicos, esses deslizes lembram como, muitas vezes, o esforço por realismo encontra desafios práticos na produção cinematográfica.
Morte no Nilo (2022)
Esse tipo de anacronismo na caracterização é um exemplo clássico de como a maquiagem de época pode ser ajustada para agradar aos padrões modernos. No filme ambientado no final dos anos 30, a personagem Linnet usa um estilo de maquiagem que destoa das tendências reais daquela época. No final da década de 1930, as sobrancelhas finas e desenhadas com lápis eram uma verdadeira marca de estilo. As mulheres costumavam remover as sobrancelhas naturais para recriar um arco fino e dramático, e o blush, por sua vez, era aplicado para dar ao rosto um formato de coração, cobrindo até mesmo as extremidades, como as orelhas.
Ao não seguir essas características, o filme perde uma oportunidade de aprofundar o contexto histórico por meio da aparência da personagem. Esse tipo de anacronismo pode passar despercebido para a maioria do público, mas para quem conhece as nuances do estilo dos anos 30, pode se tornar uma distração e até quebrar a imersão no período retratado.
…E o Vento Levou (1939)
Scarlett O’Hara é um exemplo fascinante de como a estética pode ser ajustada para criar uma imagem memorável, mesmo que isso comprometa a precisão histórica. Embora a maquiagem da personagem corresponda ao estilo da década de 1930, sua história começa em 1861, onde as normas de beleza eram bem diferentes.
Na época da Guerra Civil Americana, as mulheres geralmente não removiam as sobrancelhas e o uso de batom vermelho era visto como algo inapropriado e até vulgar. A maquiagem era sutil e buscava acentuar a beleza natural, sem exageros. O foco estava em um visual mais puro e discreto, com as mulheres preferindo tons suaves e um aspecto mais “natural”.
Essa discrepância entre o estilo de maquiagem de Scarlett e o período em que a história se passa pode criar uma desconexão para o espectador mais atento. Enquanto a intenção pode ter sido criar uma personagem forte e marcante, essa escolha estética acaba distorcendo a representação da época, desconsiderando as normas sociais que regiam a aparência feminina do século XIX.
Titanic (1997)
Por outro lado, o protagonista Jack, com seu corte de cabelo moderno e franja que cai sobre os olhos, parece deslocado no tempo. Na década de 1910, os homens geralmente usavam penteados mais conservadores e estruturados, e o estilo de Jack, que se aproxima mais de uma estética contemporânea, pode ser visto como um desvio das normas da época.
Essa escolha de estilo pode ser intencional; os criadores de filmes frequentemente ajustam a aparência dos personagens para que o público simpatize mais com eles. Um visual mais atual e descontraído pode tornar Jack mais acessível e carismático, ajudando a estabelecer uma conexão emocional com o público, mesmo que isso signifique sacrificar a precisão histórica. Essa estratégia destaca como a estética do cinema muitas vezes se adapta às expectativas modernas, em vez de se ater estritamente ao contexto histórico.